sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Saudades…

SAUDADE sangha
Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.
Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,
quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,
eu sinto saudades...
Sinto saudades de amigos que nunca mais vi,
de pessoas com quem não mais falei ou cruzei...
Sinto saudades da minha infância,
do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro,
do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser...
Sinto saudades do presente,
que não aproveitei de todo,
lembrando do passado
e apostando no futuro...
Sinto saudades do futuro,
que se idealizado,
provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser...
Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!
De quem disse que viria
e nem apareceu;
de quem apareceu correndo,
sem me conhecer direito,
de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.
Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito!
Daqueles que não tiveram
como me dizer adeus;
de gente que passou na calçada contrária da minha vida
e que só enxerguei de vislumbre!
Sinto saudades de coisas que tive
e de outras que não tive
mas quis muito ter!
Sinto saudades de coisas
que nem sei se existiram.
Sinto saudades de coisas sérias,
de coisas hilariantes,
de casos, de experiências...
Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia
e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer!
Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!
Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar,
Sinto saudades das coisas que vivi
e das que deixei passar,
sem curtir na totalidade.
Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que...
não sei onde...
para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi...
Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades
Em japonês, em russo,
em italiano, em inglês...
mas que minha saudade,
por eu ter nascido no Brasil,
só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota.
Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria,
espontaneamente quando
estamos desesperados...
para contar dinheiro... fazer amor...
declarar sentimentos fortes...
seja lá em que lugar do mundo estejamos.
Eu acredito que um simples
"I miss you"
ou seja lá
como possamos traduzir saudade em outra língua,
nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha.
Talvez não exprima corretamente
a imensa falta
que sentimos de coisas
ou pessoas queridas.
E é por isso que eu tenho mais saudades...
Porque encontrei uma palavra
para usar todas as vezes
em que sinto este aperto no peito,
meio nostálgico, meio gostoso,
mas que funciona melhor
do que um sinal vital
quando se quer falar de vida
e de sentimentos.
Ela é a prova inequívoca
de que somos sensíveis!
De que amamos muito
o que tivemos
e lamentamos as coisas boas
que perdemos ao longo da nossa existência...

Clarice Lispector

3 comentários:

  1. Bela reflexão e se for prestar a atenção a Clarice expôs o que é sentido por muitos. Bjs.

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  2. Acredito que todos sentem saudades de tantas coisas como ela bem relata - e este sentimento nos leva a viagens pelo tempo - aos risos ou lagrimas solitarias.
    Eu ainda diria um pouco alem - saudade eh aquela vontade que temos de voltar o tempo e parar em determinado instante.
    E neste instante supremo, dizer e viver tudo que por alguma razao nao nos foi permitido anteriormetne.
    Eh o desejo de sentir tudo de novo - ouvir os risos e chorar nossos prantos com muito mais intensidade do que aconteceu.
    Mas ainda nao conseguimos o meio ou a formula de fazer esta magica e reviver em um estado de magia.
    Beijokas

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  3. Lindo texto da Clarice, não tinha lido ainda... e mexeu comigo... lembrei da Pequim... abri meu orkut (criado pra reencontrar amigos do esporte e jornalismo) e fui numa comunidade, EU AMO MEU SHARPEI. Qdo 'deixei' ela pra trás, há dois anos, escrevi a história de nosso encontro. Numa noite fria de quinta-feira. Meia-noite e tanto, há quase oito anos. Quase atropelei ela. Parei o carro a tempo, sai debaixo de uma chuvinha fina, com as palavras de cuidado de uma ex-namorada. Vi q aquele cachorro, fixo como estátua na frente da luz forte do carro, me fitava assustado. Assustada, descobri q era uma 'menininha'. Levei pra casa, dei um banho improvisado, moi bolacha de sal com leite integral. Ela se refastelou na cumbuca e depois nos meus braços. Foi amor a primeira vista. Mas eu não queria ter mais cachorro. Fazia um ano q mataram a Atenas (minha boxer) envenenada. Relutei com aquela cadelinha, não queria me apegar. Preciso encontrar o dono q deve chorar como eu um dia. Dois meses indo em vários veteriários da região deixando a notícia. Nada. Até q numa, daquelas várias visitas, a doutora me disse: "Ela é sua, foi a vida quem te deu. Ninguém veio atrás nem pra mentir ser o dono de um cão tão caro". Assim eu adotei definitivamente aquela enrugadinha querida. Moramos dois anos juntos nesse ap. Outras namoradas vieram até conhecer minha ex-esposa. A união durou uns três anos e tanto. Acabou definitivamente. E deixei a Pequim com ela, tendo a certeza de q um vinculo nunca seria desfeito. As máscaras caem... e há dois anos e pouco não vejo minha Pequim... teu post meu deu saudade dela e melhor Clarice pra explicar:
    "Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer!"
    Tem muito mais coisa boa q poderia contar daquele presente lindo q a vida me deu. Das 'coincidências' doidas em relação à Atenas... não existem coincidências, foi um presente q eu não soube guardar direito...
    :o(
    Mas a saudade hj é uma dor gostosa daquela enrugada linda... q Deus guarde ela como guarda seus filhos...

    Querendo visitar meus tectecs, a porta está aberta. Obrigado por este 'acaso'...

    Everton
    www.vancouverolimpica.blogspot.com
    www.beijingolimpica.blogspot.com
    www.londresolmpica.blogspot.com

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Beijokas